segunda-feira, 2 de novembro de 2009

As agulhas do palheiro.

"É curioso que a escrita possa funcionar como dique contra os extravios psíquicos, porque, por outro lado, nos põe em contato com a realidade desmesurada e selvagem que está para além da sensatez". E quanta insensatez tem um coração partido! Perde-se o bom-senso, o juízo, a prudência. É tudo um exagero. O choro, as indagações, a quantidade de sorvete. Será mesmo que queremos escrever sobre isso? Queremos nos pôr em contato com a realidade que Rosa Montero descreveu no trechinho citado acima como "desmesurada e selvagem"?
Pode parecer aterrorizante ter que mergulhar no fundo da sua psique, do campo minado das suas emoções.
Mas é no próprio território da mente da pessoa de coração rasgado que habitam as agulhas capazes de remendá-lo. Elas estão por aí, no meio da palha toda, tudo que se precisa fazer é ter coragem de se enfiar no palheiro e engajar-se na procura!
Escrever é um ótimo instrumento para essa busca. E, se situações reais, vividas por ai, rua afora, não forem suficientes para servirem de agulha, a gente inventa: inventa um "eu" melhor, um "ele" melhor, um lugar melhor. A imaginação é a louca da casa e viver sem domesticá-la é, como diz Rosa Montero, viver numa “região crepuscular da realidade em que tudo é possível".

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