quinta-feira, 11 de agosto de 2011

Não há mensagens.


Oito da noite. Apresentação de música rolando numa igreja. Frio rolando lá fora. Menina sentada sozinha no penúltimo banco, rolando o celular no bolso.

20h10. Olha disfarçadamente para o celular. Sem ligações, sem mensagens de texto. Igual às 19h26, às 18h49 e o dia inteiro antes disso. Guarda o celular como se nem estivesse ai. Menina, não seja blasé, essa olhadinha escondida não engana nem a você.

É choro a música que vem lá da frente. É, menina, um bom choro talvez resolva o seu problema. 20h17. Larga mão, menina, ele não vai ligar! Um violão, ora um sax, ora flauta, percussão. Se a menina entendesse de música, procuraria por um baixo, já que a situação parecia grave. 20h24. Ainda sem resposta.

Abraça o corpo ou coloca as mãos nos bolsos: finge que não é pra sentir se acontecer de o celular vibrar. Balança o pé e finge que não é inquietude, coloca no ritmo da música. E, já que ta fingindo, olha de novo o celular e finge que é pra saber a hora. Olha e mal repara, nem registra 20h31. O ícone de mensagem não pisca, tampouco o de ligação.

Verifica a qualidade do sinal, por via das dúvidas. Pela via das dúvidas anda o esperançoso. E não sei se é porque a esperança sempre morre no final (afinal a via das dúvidas é bem duvidosa), mas a própria dúvida morreu ali mesmo: o sinal estava perfeito.

Não, menina, ele não ligou, ele não respondeu às suas mensagens. E não é por causa do sinal.

A menina se distrai por uns minutos com a criança de orelhas de abano três bancos à frente. Menina, não franza a testa pra ele. Talvez um dia ele diga que vai ligar para uma menina. Talvez ele ligue mesmo.

Odiou o celular que não vibrava. Odiou o banco duro, a música linda dedicada à esposa do compositor. Odiou se submeter à espera – odeia esperar. Odiou as bochechas infladas do cara que tocava sax e a camiseta cor-de-rosa do percussionista que suava. Nem precisa falar que a menina odiou o pandeiro... E o padeiro e o carteiro na platéia. E a vida, o universo e tudo mais.

20h45 nada. 20h48 nothing. 20h52 niente. 20h53 mucho menos. Resposta zero em qualquer língua. Agradecimentos lá na frente. Alguém puxa uma salva e é seguido por todo mundo. A menina se distrai ao acompanhar as palmas. Odeia quando todo mundo tem que ovacionar em pé com os puxa-saco da primeira fila. Odeia ocupar as mãos e deixar o celular desguarnecido. Plateia pede pelo bis do choro porque a apresentação de choro foi bonita. A menina pede por uma resposta. Porque acha que foi esquecida.

20h58, alonga o pescoço, levanta novamente para bater palmas. Confere mais uma vez e sai da igreja, vai para a rua, via de dúvidas, sentindo que lá, talvez, o choro continue.



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