sábado, 19 de dezembro de 2009

Golpe

Hoje eu acompanhava as idas e vindas de uma das personagens de Rosa Montero.
Eis que, lá pelas tantas, sai da boca da sujeita:
"minhas mãos formigavam de vontade de tocá-lo. Embora não estivesse certa se queria golpeá-lo ou acaricia-lo"
Pois é, essa é uma dúvida que geralmente precede o coração partido.

Páginas depois, a personagem estava obstinada: não iria acariciar nem golpear o varão em questão. Queria mesmo era matá-lo. Sentir o sangue do sujeito escorrendo pelos braços.

Não terminei ainda a leitura do livro, de modo que não sei se ela de fato abre o crânio do rapaz com uma adaga. Mas é um belo exemplo de que os caminhos do amor e da loucura mais dia menos dia acabam se cruzando.

Mais uma conversa com o Diabo.

quinta-feira, 10 de dezembro de 2009

De Lily Allen e Descartes


Amei, logo existo.


'Ocupando-se incessantemente em considerar os limites que me eram prescritos pela natureza, persuadi-me tão perfeitamente de que nada estava em meu poder além de meus pensamentos, que só isso bastava para impedir-me de sentir qualquer afecção por outras coisas.'



'My world turned upside down
So what did you expect?
My heart is aching
And I've never felt this bad I pinch myself
To check that all of this is real
Keep faking
I'm not letting on
I feel this sad
And then you've got the cheek
To ask me how I feel
And I say Absolutely nothing
I'm absolutely fine
Absolutely nothing
You can say to change my mind
You've seen me cry
Too many times
But not this time
I don't need you
To help me through I'll be just fine'

'As coisas que me pareceram verdadeiras quando comecei a concebê-las pareceram-me falsas quando pretendi pô-las no papel.'


'I don't wanna hurt you cause I don't think it's a virtue
But you and I have come to our end

Believe me when I tell you that I never wanna see you again
And please can you stop calling cause it's getting really boring
And I've told you I don't want to be friends
Believe me when I tell you that I never wanna see you again
How on earth could I be any more obvious?
It never really did and now it's never gonna happen with the two of us
I don't understand what it is that you're chasing after
But it makes me really sad to hear you sound so desperate
It just makes it harder'

'E eu sempre tive um imenso desejo de aprender a distinguir o verdadeiro do falso, para ver claro nas minhas ações e caminhar com segurança nesta vida.'

'Whenever you see me you say that you want me back
And I tell you it don't mean jack, no it don't mean jack
I couldn't stop laughing, no I just couldn´t help myself
See you messed up my mental health
I was quite unwell
I was so lost back then
But with a little help from my friends
I found a light in the tunnel at the end
Now you're calling me up on the phone
So you can have a little whine and a moan
And it's only because you're feeling alone'

'Nunca o meu intento foi além de procurar reformar meus próprios pensamentos, e construir num terreno que é todo meu.'


'The littlest things that take me there
I know it sounds lame but it's so true

I know it's not right, but it seems unfair

The things are reminding me of you
Sometimes I wish we could just pretend
Even if only for one weekend
So come on, tell me Is this the end?'

http://www.youtube.com/watch?v=FbDMUijBP2U

quarta-feira, 2 de dezembro de 2009

Desde criançinha.

Toda vez que comemoramos um aniversário somos involuntariamente induzidos a nos envolver românticamente com um docinho. Já parou pra pensar que tudo começa com a junção de um pouco de açucar com um grande amendoim, vulgo cajuzinho.
Depois começam as briga deiro, mas nada que um beijinho não resolva.
Quando vira dois amores, não demora muito para que o olho de sogra já esteja em cima, depois vem a língua de sogra e ninguém mais aguenta.

Mas mesmo que o olho de sogra fique no pé do muleque, não adianta, o que ele gosta mesmo é de teta de nega!

Depois não sabem porque eu não gosto de festas de criança.

quinta-feira, 26 de novembro de 2009

Amarguras.

Eu tenho me sentido amarga. Incapaz de encarar meu próprio broken heart. Incapaz de amar, sentir saudades ou mesmo odiar meu heart breaker. Há um mês e um dia tomei um fora. Desde então, não parei pra pensar no que passou a significar aquilo que durante dois anos eu chamei de amor. Não sei dizer o que, exatamente, restou. Eu me ocupei de estudos, de livros, de outras pessoas - novas e, principalmente, velhas. Fui guardando os sentimentos nos meus cantos.

Procurei algo positivo pra dizer aqui. Algo que fosse otimista e que expusesse tudo de bom que eu já passei antes de cada broken heart. Mas eu só conseguia pensar em como um coração nunca pode ser totalmente costurado e que ele vai ficando tão duro, tão remendado e cheio de falhas que nem sofre mais. Racionalmente falando, eu sei que levei um fora, que fui usada e que fui feita de boba por uma pessoa de que eu gostava muito. Não derramei uma lágrima, não fiquei triste nem por um segundo. Não senti nada. E se senti, foi só vaidade, orgulho ferido, uma exacerbada auto-valorização. Tudo mentira.

Eu estou me sentindo muito amarga. Eu me finjo, me dissimulo e me engano. Se não estou descrevendo um quadro ou construindo ambiguidades, escrevo mentiras. De resto, sou sincera. Não faço nem falo mais do que sinto. Já que só consigo me sentir assim. Já nem dá pra fingir. Eu posso esquecer, se eu quiser. Começar tudo de novo. Mas nem quero, nem pretendo.

Eu não vou encarar tudo pela quarta vez. Fingir que não estou desencantada ou que não me sinto frustrada, fracassada e incapaz. Não vou fingir que acho que está tudo bem e que tudo bem tentar de novo porque é assim que a vida é. A vida não deve ser assim. Nada, nem ninguém, devia ter o poder de destruir uma coisa que era tão forte em mim. Essa coisa de eu ser romântica até os ossos. De eu viver e ser o romance da vez. De encantar os ouvidos das minhas amigas com o charme, a inteligência, a beleza e a fantasia das minhas idealizações. Por tudo que eu disse e escrevi, vivi romances idílios e monstruosos ao mesmo tempo. Por tudo que eu exagerei, por tudo que eu vi, por tudo que eu romaceei.

Eu não queria ter perdido isso. Não queria ter que me sentir assim agora e, principalmente, não queria ter que guardar essa mágoa pra tentar me "proteger".

Não estou me sentindo triste, não estou me fazendo de vítima. Tive muita culpa nessa história toda. Só estou constatando um fato: o de que eu estou me sentindo muito, muito amarga.

quarta-feira, 25 de novembro de 2009

O cara legal que eu não quis.

Em 2002, sob a direção de Sam Raimi, o ator Tobey Maguire encarnou nos cinemas um dos personagens mais famosos e queridos da Marvel Comics, o Homem-Aranha. Talvez pelo collant justinho em azul e vermelho, talvez pelo jeitinho meio tímido, Peter Parker conquistou meu coração quando eu tinha apenas doze anos. Nunca fui atrás dos quadrinhos impressos em papel, nem me vesti de Duende Verde em nenhuma festa a fantasia, mas assisti à adaptação para o cinema centenas de vezes, provavelmente mais do que muitos rapazotes da mesma idade.
Com os óculos apoiados bem no alto do nariz e com uma saudável obsessão pelo meu super-herói favorito, ele apareceu. Foram esses os fatos que me levaram a dar atenção ao que ele dizia. E dizia coisas agradabilíssimas, o tempo todo. Tinha sensibilidade para boa música, embora não tocasse nenhum instrumento musical. Não tive tempo de dizer isso a ele, mas sempre achei que ele deveria experimentar algum instrumento musical.
Talvez piano. Ele tem mãos para o piano. Longas e ossudas que, combinadas com o corpo esguio e os cabelos escuros me passavam uma excessiva sensação de segurança. Ele tinha um jeito de marido, para falar a verdade, embora combinasse paixão e suavidade com uma maestria que eu nunca mais encontrei e homem algum. Era um cara legal em vários aspectos. Além de gostar de música norte-americana e acompanhar todos os seriados que seu tempo livre permitia, ele jogava futebol americano. Não sei se fazia isso porque realmente gostava ou só pra fazer tipo. Não tive tempo de conhecê-lo o suficiente para saber. É uma dúvida que me perturba até hoje, principalmente porque pesquisei bastante sobre times, regras, campeonatos e o esporte não me atraiu de maneira nenhuma.
Fato é que, sendo eu quem eu sou, e sendo ele quem ele é, ou melhor, sendo eu quem eu sou e ele quem ele era (já que a vida e moça o devem ter mudado mais do que seria possível, para mim, imaginar), tive certeza, no exato momento em que segurei a sua mão, que não poderia segurá-la por muito tempo. Meu toque pedia fúria, loucura, novidade. O toque dele transmitia uma tranqüilidade e uma estabilidade intangíveis até mesmo para a minha imaginação.
Sei que tentei convencê-lo disso por meio de explicações sem nenhum cabimento. Queria poder fazê-lo acreditar que eu tinha um dom, o dom da premonição, e que eu o via, no futuro, sendo muito feliz por aí, com quem quer que fosse, exceto comigo. Ou então que era perfeitamente comum que eu o estivesse magoando: eu também já fora magoada e ele também magoaria alguém um dia. Pode ser que eu realmente acreditasse no que estava dizendo naquela época (e realmente sinto que eu acreditava), hoje, no entanto, acho uma tremenda de uma conversa fiada. Não fiz o que fiz por maldade, fiz por mim, pelas coisas que queria e com que sonhava, e também por ele, pelas coisas que ele queria e com as quais sonhava. Espero que um dia eu tenha a oportunidade de dizer isso ele.
Se ele sofreu ou não, fato é que minha mais sincera balela deixou o caminho livre para que aparecesse em sua vida uma moça baixinha, com olhos pequenos e redondos, quase felinos, tão suaves e sensíveis quanto os dele, que lhe deu o que ele queria. Da mesma maneira como deixou o caminho livre para a minha boca suja, minhas experiências excêntricas, cheias de riscos aos quais, tenho a sensação, ele jamais se exporia. Eu posso ter inventado a tal premonição, mas acredito que minha fé e a justiça da natureza fizeram por bem torná-la realidade.
Não tem vez que eu assista ao Homem-Aranha sem me lembrar dele. Quando vejo algum meninote louco por videogame, não consigo evitar o riso por dentro. E às vezes, mais freqüentemente anos atrás, assistia aos jogos da NFL na ESPN só para recordar as regras do “football” que, com tanto esmero, aprendi para agradá-lo. Estamos onde deveríamos, não sentimos falta um do outro, não temos contato. Tenho inclusive a sensação de que ele se lembra de mim com muito menos freqüência do que eu dele e que, quando se lembra, isso nem faz diferença.
Bastante curioso que eu nunca tenha escrito nada, em absoluto, sobre ele. Acho que dediquei tanto tempo recheando páginas com histórias sobre os outros, aqueles que não me quiseram, que não sobrou nem um minuto para escrever um versinho sequer sobre ele. O cara legal que eu não quis.

domingo, 22 de novembro de 2009

How can you NOT break a heart?

Pode parecer mesquinho, pode ser que me odeiem por estar escrevendo isso, mas estar do outro lado da história não é assim fácil e irrelevante. O lado do mal, o "vilão" que sai por aí pisoteando e dançando salsa sobre os sentimentos alheios.
Ninguém escolhe quando e por quem se apaixonar.
Já fui acusada de não ter coração, de ser fria, indiferente e insensível. Foram tantas ofensas e tão convictas que cheguei a acreditar que era verdade, que tinha algum problema.
Mas o fato é que dói muito ouvir isso, e a verdade é que não há nada de problemático em não conseguir retribuir todos os sentimentos que provocamos.
Ninguém está livre de ter seus sentimentos feridos, mas também não há quem nunca tenha ferido os sentimentos de alguém.
Nós estamos sempre oscilando entre ambos os lados.
Hora destruímos, hora somos destruídos.
Em algum momento, inevitavelmente, nossos sentimentos vão coincidir com os de alguém.
Enquanto isso, permanecemos com as desilusões.
E são essas desilusões que movem o mundo.

domingo, 15 de novembro de 2009

Uns pensares.

Até eu, que não gosto de poesia, tenho meu poema preferido:

Soneto de Fidelidade - Vinícius de Moraes
De tudo ao meu amor serei atento
Antes, e com tal zelo, e sempre, e tanto
Que mesmo em face do maior encanto
Dele se encante mais meu pensamento.

Quero vivê-lo em cada vão momento
E em seu louvor hei de espalhar meu canto
E rir meu riso e derramar meu pranto
Ao seu pesar ou seu contentamento

E assim, quando mais tarde me procure
Quem sabe a morte, angústia de quem vive
Quem sabe a solidão, fim de quem ama

Eu possa me dizer do amor (que tive):
Que não seja imortal, posto que é chama
Mas que seja infinito enquanto dure.

O meu problema é que eu quero, e tento, um amor eterno... Num mundo em que as coisas não são feitas para durar...

Chega de reclamar

Tem duas coisas nessa vida que eu sei fazer particularmente muito bem: Reclamar e arranjar desculpas. De início a culpa era do meu físico. "Não, é porque eu sou gordinha", e quem é obeso tem que desistir de amar de certo?! Foi então que surgiu a comparação "Mas veja, ela é burra e namora!". Pois bem meus caros, a lei da atração é uma mágica que não tem teoria que explique. Mas não me venha com a historinha de que o segredo é não correr atrás das borboletas! Pelo amor de Deus, qualquer pessoa quer arranjar um amor, independente da idade que esteja! Mas sei que apartir de hoje vou parar de reclamar! Eu não fui traída, não fui espancada, não fui usada. Simplesmente não fui amada. Parece triste não? Mas não é! Eu sou amada todos os dias por pessoas maravilhosas que não chamo de namorado. Mas bem que eu assinaria um papel prometendo estar presente na alegria e na tristeza, no amor e na doença até que a morte nos separe e não trocar nem sequer um mísero beijo por isso. Quer saber? "Não sei quem és, não sei onde estás, não sei o teu nome, mas sei que existes". Acho que nunca estive tão mal e tão bem ao mesmo tempo!

domingo, 8 de novembro de 2009

Conspiração do Universo

Devo admitir que estou passando pela crise do coração partido. Eu tive vontade de escrever, gritar, e chorar. Não que eu não tenha feito nada disso. Mas eu queria escrever, vomitar tudo que eu tenho sentido. Aí pensei que queria ser anônima, e que ninguém soubesse que eu sou eu e ele, é ele. Mas eu nao sou. Eu sou de verdade, e eu estou sentindo de verdade. E sei que dessa vez não adianta insistir, nem com um pouco de vodka. O melhor é desistir. Tentei. Mas o universo como sempre, conspirou. Dançei, beijei, ri, e ele se chamava como o meu irmão. Alguém me diz porque esse tipo de conhecidência ridícula acontece na vida?! Eu achei a agulha e ela insiste em ficar furando a ferida. E lá estava ele, encontrando com o amor dele, e claro, como sempre não sou eu. Quero parar. Parar de amar. Deveriamos nascer e ter certeza que no final haverá um cara descente pra se apaixonar, mesmo que ele não chegue eu sei que um dia vai chegar. Mas no momento acho que estou desacreditada, já que ninguém me disse isso quando nasci.

À espera.

Não sei se existe coisa mais angustiante que esperar por um homem. Já dizia Rubem Braga que “devia haver um número de telefone especial para a mulher que está esperando o homem chamar, reclamar providências, ouvir promessas, insistir, tocar outra vez, xingar, bater com o fone”. Do outro lado dessa linha estariam funcionários especiais para garantir que pelo menos no necrotério ele não está, nem no pronto-socorro, nem em delegacia nenhuma.
Não sei por que razão, Deus elege algumas mulheres para estarem sempre esperando. Esperando por telefonemas que nunca vem, esperando sentadas durante horas imaginando que talvez ele não tenha aparecido, nem ligado, porque foi atropelado por um táxi, ou porque foi assaltado e levaram seu telefone celular. Quando o camarada aparece (nem atropelado e nem assaltado) é que você acaba se dando conta de que, na verdade, não ligou porque não quis, e não apareceu no horário porque simplesmente não se importava.
Quantas mulheres nesse vasto mundo já não se perfumaram para homens que não apareceram para encontrá-las? Quantas mulheres nesse mundo já não tocaram campainhas de casas vazias? Quantas mulheres já não assistiram ao jantar especial ficando frio pelo atraso do companheiro? Não sei. Não sei quantas foram, nem de que parte do mundo elas são. Só sei que conversaram com o Diabo. Por que é isso que fazemos enquanto esperamos: conversamos com o Diabo. Não que ouçamos o que ele diz, mas que a gente conversa, ah conversa.

Música pro fim.

Tem gente que chora, tem gente que escreve poesia, tem gente que escreve verso. Tem gente que sai com outras pessoas, tem gente que bebe, tem gente que sai com as amigas. Tem gente que escreve música... E escreve como se fosse pra todo mundo. Sempre fui apaixonada pela banda Snow Patrol, que descobri baixando uma música por engano. Que engano feliz a despeito dos enganos ruins que me fazem perder anos de vida! Não sei precisar a data, mas no início desse ano eles lançaram um novo álbum "A Hundred Million Suns". Fuçando curiosidades sobre o álbum, descobri que Gary Lightbody, o vocalista, escreveu o álbum pensando no divórcio por que passou. Examinando as letras, vê-se a expressão mais exata do que é o fim de um relacionamento que você levava a sério. Quem passou por isso vai entender. Seguem alguns trechos:

'Eu reconheci a batida, porque combinava com a sua própria batida Eu ainda lembro dela, do nosso peito no peito, e os pés nos pés O silêncio leve era um doce alívio para esse silêncio abafado De fornos, aviões e do barulho distante dos carros Eu me machuco, você não, sempre fui eu o escolhido pra me machucar.'

'Abra as persianas bem abertas, eu quero te admirar na luz do dia E apenas ver a luz passando pelo seu rosto e corpo Eu podia sentar por horas, encontrando novas maneiras de ficar estarrecido a cada minuto Porque a luz do dia parece te querer tanto quanto eu te quero.'

'Está na hora de você fazer suas próprias escolhas. Todos esses anos passados e isso está me matando Não há necessidade de por palavras em minha boca Não precisa me convencer, de forma alguma Me diga que você nunca quis mais do que isso E eu vou parar de falar agora Uma parceira perfeita, um beijo eterno.'

'Cante para fora, cante para fora, o silêncio só nos engole se for por dentro Eu não queria danos, mas só consegui dizer essas palavras tarde demais Acorde, acorde, sonhar só nos leva a mais e mais pesadelos Troque o que você disse por um jeito que você mostre que você realmente se importa'

'Me diga que você quer dançar Eu quero sentir seu pulso no meu' 'Eu li seu nome embaixo de palavras elegantes que você provavelmente não diria agora Eu dobrei a carta e pensei em milhões de coisas que eu poderia ter feito diferente'
'Eu desenhei isso para que parecesse conosco pra sempre como somos agora Eu estou balançado e perdendo a calma Quando seus olhos encontram os meus eu perco a noção Como para te dizer que tudo que eu quero é agora Eu só não sou mais o mesmo que eu era há um ano e cada minuto desde então'
'O mar encheu o silêncio Antes de você dizer aquelas palavras E agora até mesmo no escuro Eu posso ver agora quanto você está feliz'

'Você diz que me ama como as lágrimas de risos e os beijos passados Você diz que me ama como o passado, o agora, os anos que virão O que você vai lembrar Depois que eu disser adeus?'
'Sou como um prisioneiro Me preparando para falar Eu sinto o sangue nas minhas mãos E a ameaça no seu andar'



Vale a pena gastar uns minutos baixando (ou, de preferência) comprando o cd.
Tem gente que escreve músicas e diz tudo que a gente queria dizer.

quinta-feira, 5 de novembro de 2009

Infidelidade Calculada

Havia algo como uma afinidade eletrônica. Como se eu, halogênia, quisesse me ligar a ele, elemento nobre. Tão completo em sua aparência, sua camada de valência. Estávamos separados por uma membrana semipermeável. A solução dele estava concentrada e a minha, diluída, distraída. Foi preciso um catalisador para baixar a energia de ativação do sistema. Houve uma diminuição do volume e um aumento da pressão. Aproximação. Tensão. Sem que se pudesse prever qual seria a reação.
Meus orbitais oculares brilharam num arranjo cristalino. A substância de que ele era feito era altamente reativa e se decompunha em partículas tais quais fagulhas elétricas, excitando o meu sistema, mudando meus elétrons de camada. Foi à Q. Voltei em fótons. Eu poderia brilhar. Na teoria, o cálculo indicava que nossas massas e geometrias eram perfeitos para um equilíbrio dinâmico. Bem dinâmico, se dependesse da minha energia. Na movimentação da nossa mistura agitada, aumentou a superfície de contato e a temperatura subiu. Deslocou meu equilíbrio. E era visível que a reação direta era recíproca à reação inversa. Éramos uma mistura homogênea, eu-tética, ele-trônico e precisávamos de uma solução.
Vamos, reaja! Estou curiosa para saber do seu produto!
Mas os choques não foram efetivos e permanecemos no estado ativado, mas inertes. A demonstração discursiva do processo mostra que cada um de nós estava em compostos estáveis e precisávamos de muita energia para quebrar as ligações.
Mas sabe-se que há re(l)ações que demoram anos para acontecer. Não tenho pressa.
Cantamo-nos, não reagimos, decantei.

segunda-feira, 2 de novembro de 2009

É arte!

Arte pode ser Picasso, Cecília Meireles ou se recuperar de um coração partido. Alguns dizem que arte é se apaixonar de corpo e alma. Que ilusão! Arte é sofrer e se recuperar. Se apaixonar é a parte mais fácil do processo. Junte uma pessoa de seu agrado, com um bocado de qualidades que a satisfaça e se apaixone. Mas ver essa pessoa apaixonante partir e ficar numa boa, é frustrante. Engordar, encher lenços de lágrimas faz parte. Mas já pararam pra pensar na beleza de um coração partido?! Sobrevivendo, se cria um rede protetora. A rede protetora de pessoas desapaixonantes. Você vira exigente. Você se permite quebrar o coração desde que a pessoa seja melhor do que a última por quem você perdeu meses aos prantos. Chega a um ponto que você se machuca, mas por pessoas íntegras. Pessoas que merecem pelo menos um "Filho da puta, por que? Que mundo injusto". Você liga para todas as suas amigas procurando respostas, explicações que simplesmente não existem. É doloroso, mas artistico e vicioso, espero não ter que cortar a minha orelha por causa disso!

As agulhas do palheiro.

"É curioso que a escrita possa funcionar como dique contra os extravios psíquicos, porque, por outro lado, nos põe em contato com a realidade desmesurada e selvagem que está para além da sensatez". E quanta insensatez tem um coração partido! Perde-se o bom-senso, o juízo, a prudência. É tudo um exagero. O choro, as indagações, a quantidade de sorvete. Será mesmo que queremos escrever sobre isso? Queremos nos pôr em contato com a realidade que Rosa Montero descreveu no trechinho citado acima como "desmesurada e selvagem"?
Pode parecer aterrorizante ter que mergulhar no fundo da sua psique, do campo minado das suas emoções.
Mas é no próprio território da mente da pessoa de coração rasgado que habitam as agulhas capazes de remendá-lo. Elas estão por aí, no meio da palha toda, tudo que se precisa fazer é ter coragem de se enfiar no palheiro e engajar-se na procura!
Escrever é um ótimo instrumento para essa busca. E, se situações reais, vividas por ai, rua afora, não forem suficientes para servirem de agulha, a gente inventa: inventa um "eu" melhor, um "ele" melhor, um lugar melhor. A imaginação é a louca da casa e viver sem domesticá-la é, como diz Rosa Montero, viver numa “região crepuscular da realidade em que tudo é possível".